Sobre o projecto de seguimento da Cegonha-branca



Nem todas as Cegonhas-brancas continuam a migrar para Africa para

passar o Inverno e são agora uma observação comum em aterros sanitários

em Portugal durante o Inverno. De que forma as condições climáticas

mais amenas e a disponibilidade abundante de alimento

têm contribuído para a mudança do seu comportamento reprodutor?



A stripped down GPS/GSM tracking device



Muitas centenas ou mesmo milhares de cegonhas são encontradas em

aterros sanitários, ao lado de gaivotas e garças-boieiras.



Cada cegonha que equipámos com emissor tem também uma anilha colorida.

Se vir uma, por favor contacte-nos!

A distribuição das populações invernantes e nidificantes da Cegonha-branca têm sofrido alterações fascinantes nas últimas décadas. Desde a década de 1980, um número crescente de Cegonhas- brancas têm escolhido ficar na Península Ibérica durante todo o ano, em vez de migrarem para África durante o Inverno. O número de aves invernantes desta espécie em Portugal tem crescido de

forma significativa, de aproximadamente 1.180 indivíduos em 1995 para mais de 10.000 indivíduos em 2008. Alguns destes indivíduos que invernam em Portugal provêm de populações reprodutoras da Europa central e oriental. A Cegonha-branca é uma espécie oportunista e adaptável e tem beneficiado não só de uma abundância regular de alimento em aterros sanitários, mas também

das temperaturas mais amenas durante o período de Inverno. Esta espécie comecou a nidificar em novas áreas mais a norte em Portugal, possivelmente beneficiando também de climas mais adequados e da disponibilidade de alimento em aterros. Este projeto procura assim perceber de que forma as mudanças recentes no clima e noutras condições ambientais podem ter contribuído para a mudança no seu comportamento migratório.

O acesso a alimento nos aterros sanitários é importante para esta espécie, de tal forma que grandes colónias reprodutoras se têm estabelecido nas imediações destes locais. No entanto, os aterros sanitários em céu aberto em Portugal vão ser substituídos por unidades mais modernas onde os despojos de comida serão tratados em áreas cobertas, deixando de estar disponíveis para

as cegonhas. Desta forma, as cegonhas que agora se alimentam em aterros irão provavelmente alimentar-se em campos agrícolas para encontrar recursos alimentares alternativos durante o Inverno, o que poderá ter impactos na sua distribuição, reprodução e decisões migratórias. Este projeto pretende assim investigar a ligação entre a utilização do habitat e o aquecimento global de forma a prever a futura distribuição da Cegonha-branca.

Como é que seguimos as aves?

Foram aplicados em Cegonhas-brancas adultas emissores com tecnologia GPS/GSM em Portugal no verão de 2012/13. A previsão de duração da bateria destes emissores é de um ano, mas existe a possibilidade de que continuem a transmitir após este período. Diariamente, cada emissor recolhe localizações GPS cinco vezes ao dia – antes do amanhecer, às 5 da manhã, e durante o dia às 8:00, 11:00, 14:00 e 17:00 horas (GMT). Cada recolha consiste num conjunto de localizações em rápida sucessão que nos permite aferir a direção e velocidade de deslocação. O emissor recolhe também dados de acelerómetro que nos permite determinar se a ave está em pé ou em alimentação (de

cabeça para baixo). A cada dois dias, os dados recolhidos pelo emissor são transmitidos através da rede GSM de comunicação móvel. Com tantas espécies de aves migratórias em declínio, perceber porquê e como mudam as populações de aves migradoras é um importante passo para compreender como mudam as populacões de aves a longo prazo.

O que estamos a tentar perceber?

Inverno

Perceber os padrões de movimento da Cegonha-branca durante o Inverno, em resposta à temperatura e precipitação. Perceber também os seus habitats preferenciais de alimentação, dependência dos aterros sanitários como fonte de alimento e de que forma utilizam ninhos e dormitórios comunais durante o Inverno.

Verão

Uma vez que as cegonhas estejam a nidificar, estamos interessados em perceber quais os habitats que as aves adultas visitam para recolher alimento para as suas crias. Pretendemos também entender se as aves que dependem maioritariamente dos aterros sanitários durante o Inverno acabam por nidificar também em áreas próximas destas estruturas. No caso de isso não acontecer, pretendemos identificar se estas aves voam longas distâncias para recorrer alimento nos aterros sanitários ou se apenas se alimentam em áreas próximas dos seus ninhos.

Postes de eletricidade

Os dados das localizações GPS permitirão também obter uma nova perspetiva sobre como esta espécie utiliza os seus ninhos, quer durante o período reprodutor, quer durante o período não reprodutor. A defesa dos ninhos é um comportamento que tem começado a observar-se cada vez mais cedo durante o seu ciclo anual, com algumas das aves residentes a utilizarem os seus ninhos durante todo o ano. Cada vez mais cegonhas escolhem nidificar em postes de eletricidade, o que potencia a sua colisão com cabos elétricos de alta tensão. Várias das cegonhas que marcámos com emissores têm utilizado ninhos localizados em postes ou nas suas imediações e, inclusivamente, uma das aves marcadas (Phil) deverá ter colidido com uma linha elétrica de alta tensão pouco tempo antes da sua captura para colocação do emissor. Os nossos dados permitir-nos-ão investigar como estas aves utilizam os seus ninhos e com que frequência voam nas imediações das linhas elétricas. À medida que a população de cegonhas em Portugal altera a sua distribuição, esta informação será preciosa no sentido de prever onde e como os postes de eletricidade poderão ser utilizados no futuro.

Agradecimentos

Ao pessoal todos os aterros sanitários, pelo seu ineteresse no projecto e por amávelmente no permitirem capturar cegonhas nas suas instalações:
  • Aterro Sanitário Intermunicipal de Evora (GESAMB)
  • Aterro Sanitario de Vila Ruiva (AMCAL)
  • Aterro Sanitário de Ermidas do Sado (Ambilital)
  • Aterro Sanitário da Herdade do Montinho, Beja (Resalentejo)


A big thank you also to Kris and Luc van Uffelen at Fleetronic for all their support and hard work in adapting their loggers to suit our needs. 

Financiadores

NERC, BTO, FCT (Fundacao para a Ciencia e a Tecnologia)


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